POEMA DO CADERNO PRETO
O poeta que há em mim nasceu morto, Pois aos tropeços e solavancos Vocifero escrita em senso torto, Obstante aos versos livres e brancos. Procuro movimento a seguir, Cheio desta profissão de fé, E extraio poeticamente o elixir Desta vida, às claras, torpe como é. Sou um romântico contemporâneo, Sofrendo as feridas do passado Desta consciência no subterrâneo Do meu eu, por tormentas, assombrado. Escrevo poema em culto ao sofisma N’algum lugar sem gente conhecer, Nem mesmo aquela moça que cisma, Com coisas tolas, m’entristecer. Sou qual poeta na busca de ostracismo. Novidades de um tempo remoto. P’ra sentir-me tal por eufemismo, À reclusão, em páginas, fiz voto. Ando à solta por aí só a fitar Morte de gente n’alma pelo olho E pasmo incrédulo a admirar: Mais um universo com ferrolho! As minhas entradas estão abertas, Entram e saem incontidamente, Vêm de todos as mesmas ofertas Travestidas de intenções da mente. Nunca saberei o ponto de vista. Confesso que dos meus ando farto! Não mostram relance, ainda que insista, Se lhes arranco, é como um parto! No caderno preto a um querubim Se, em rascunho, mensagem fizesse, Fosse o que fosse: um “eu” sem mim No perene ressoar de uma prece: Assim, ó Deus, que me deu a ilusão, Prefiro a verdade a ser alguém Que é decrépito desde a criação, Clamando a vós qu’está no céu. Amém! Leandro Seribelli
Enviado por Leandro Seribelli em 25/06/2015
Alterado em 07/07/2015 |